quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Sobre o Holocausto... Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes - Um Homem de Consciência 


   Aristides de Sousa Mendes nasceu a 19 de julho de 1885, em Cabanas de Viriato, distrito de Viseu. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, ingressou na carreira diplomática em 1910 ao ser nomeado cônsul de 2ª classe na Guiana Britânica. Aqui viveu com a sua esposa, Angelina de Sousa Mendes, e os seus filhos, tendo ganho grande prestígio. Em 1918 foi colocado em Curitiba, no Brasil e promovido a cônsul de 1ª classe. Dirigiu o consulado em São Francisco, nos Estados Unidos da América. Regressou a Lisboa em 1926 para prestar serviço na Direção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares.



   
                                                                     





                                      Aristides de Sousa Mendes   
com a família

   
   Com o golpe de Estado de 28 de maio de 1926, foi nomeado cônsul em Vigo e, mais tarde, em Antuérpia. Em 1938 foi transferido para Bordéus. É nesta cidade francesa que desempenhará o papel determinante que vai alterar para sempre não só o percurso da sua própria vida, como da vida de milhares de pessoas. 

   Aristides de Sousa Mendes viu-se confrontado com a decisão mais difícil da sua vida quando Paris foi ocupada pelo regime nazi. A Bordéus chegavam milhares de refugiados vindos dos países ocupados pela Alemanha e Salazar havia dado ordens expressas aos diplomatas para limitarem drasticamente a concessão de vistos, a fim de impedir o afluxo maciço de refugiados a Portugal.   

   O cônsul viu-se perante um tremendo caso de consciência: ou obedecia ao ditador, contribuindo para a detenção de judeus e outros refugiados numa França ocupada pelos nazis; ou desobedecia, perdendo a sua carreira e arruinando-se economicamente, mas salvando milhares de refugiados ao possibilitar-lhes, com um visto, a fuga para Portugal. 


Refugiados à porta do Consulado Português em Bordéus, na tentativa de obter um visto para Portugal

   Foi no dia 17 de junho de 1940 que Sousa Mendes tomou a decisão de conceder vistos a todos os que deles necessitassem, sem fazer nenhuma pergunta nem praticar quaisquer discriminações de caráter religioso, político ou racial. Como mais tarde esclareceu, considerava imoral e anticonstitucional perguntar aos requerentes de vistos se eram judeus. Entre os dias 17 e 19 de junho, contrariando ordens de Salazar, concedeu, com a ajuda de um dos seus filhos, milhares de vistos e ordenou aos cônsules de Toulouse e de Bayonne para fazerem o mesmo. Por diversas vezes, albergou refugiados na sua casa em Bordéus e também na sua residência em Cabanas de Viriato. 

  Tais atitudes desagradaram muito a Salazar, que demitiu Aristides de Sousa Mendes em 1940. O ex-cônsul ainda apelou para o Supremo Tribunal Administrativo e para a Assembleia Nacional, mas sem obter quaisquer resultados. As consequências da sua destituição foram dramáticas, pois foi obrigado a viver da caridade para manter a sua numerosa família. Entretanto, alguns dos seus filhos emigraram para os EUA. Cada vez mais só e em grave penúria financeira, Aristides de Sousa Mendes faleceu no dia 3 de abril de 1954, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa. Após a sua morte, todos os seus bens foram vendidos em hasta pública para pagamento de dívidas. 


"Era realmente meu objetivo salvar toda aquela gente, cuja aflição era indescritível: uns tinham perdido os seus cônjuges, outros não tinham notícias dos filhos extraviados, alguns haviam visto sucumbir pessoas queridas sob os bombardeamentos alemães que todos os dias se renovavam e não poupavam fugitivos apavorados."

Aristides de Sousa Mendes, 10 de agosto de 1940

   Alguns anos mais tarde, em 1967, Yad Vashem, uma organização estatal israelita para a recordação dos mártires e heróis do Holocausto, homenageou Aristides de Sousa Mendes. A Medalha de Ouro dos Justos foi entregue a uma das suas filhas e, na Ala dos Justos Entre as Nações, em Jerusalém, foi plantada uma árvore em sua honra. 
                                Placa que identifica a árvore plantada na Ala dos Justos Entre as Nações 

   Em Portugal, em 1987, o então Presidente da República Mário Soares, conferiu-lhe, a título póstumo, a Ordem da Liberdade. No ano seguinte, a Assembleia da República reparou a grave injustiça cometida, reintegrando-o no serviço diplomático por unanimidade e aclamação. 

   Foi ainda homenageado nos Estados Unidos da América, local onde se fixaram muitas das pessoas que salvou. Em 2005 o seu nome passou a figurar na Galeria dos Salvadores do Museu da Herança Judaica, em Nova Iorque.
   Graças à coragem, determinação e humanismo de Aristides de Sousa Mendes, muitos refugiados puderam salvar-se do extermínio nazi durante a II Guerra Mundial. 

   Para saberes mais sobre a vida de Aristides de Sousa Mendes, as Bibliotecas Escolares sugerem-te um livro e um filme. Vais gostar! 



S. Louro, O Cônsul Desobediente; S. Bruchfeld, P. Levine, Contai aos Vossos Filhos (Texto adaptado)