Nascemos para amar; a
Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da
ternura.
Tu és doce atrativo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que
persuade.
Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se
apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abisma nas lobregas
tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele
morre.
Bocage, Sonetos
Química
Sublimemos, amor.
Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.
José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"