terça-feira, 26 de março de 2019

Biblioterapia com "Os Maias"

  
  Este ano letivo, as Bibliotecas Escolares têm vindo a dinamizar o projeto Biblioterapia com Os Maias, numa abordagem diferente não só da leitura e do livro, como também da obra de Eça de Queirós.   
  O projeto resulta de uma parceria entre as Bibliotecas Escolares e as disciplinas de Português, História AEconomia A, Inglês e Espanhol do 11º ano de escolaridade, e está a ser desenvolvido com as turmas 11ºB e 11ºC.
  As comemorações dos 130 anos da 1ª edição de Os Maias, a pertinência e a intemporalidade da obra estão na base da sua escolha para linha condutora de mais um projeto de Biblioterapia. Nas sessões já desenvolvidas, professores e alunos têm procurado estabelecer pontes entre os conteúdos disciplinares a partir da leitura e dos horizontes que o livro pode oferecer.

  

  A primeira sessão "Vem conhecer o livro Os Maias" decorreu nos dias 1 e 8 de fevereiro, com as turmas 11ºC e 11ºB, respetivamente, no âmbito da disciplina de Português. 
  Nesta sessão foi relembrado o conceito de biblioterapia como um método de desenvolvimento pessoal e de autoconhecimento através dos livros. Ao estabelecer uma relação entre a personalidade do leitor e a literatura, a biblioterapia conduz a uma tomada de consciência de si mesmo, contribuindo assim para a identificação, análise e resolução das inquietações pessoais.
  Desta forma, a biblioterapia permite ao leitor alcançar os seguintes objetivos:

* Ler e comentar as histórias;
* Criar uma relação com os temas, os espaços e as personagens;
* Identificar o seu problema, dúvida ou inquietação;
* Reconhecer e explorar as suas emoções e sentimentos;
* Analisar as razões e as soluções para o seu problema. 

  Mas como é que Os Maias, de Eça de Queirós, podem ser um livro de biblioterapia? O que é que um enredo e todo um conjunto de personagens do séc. XIX podem oferecer aos jovens alunos dos dias de hoje?

  Procurámos pistas para uma resposta a esta questão no texto de Afonso Reis Cabral, escritor e trineto de Eça de Queirós, publicado na revista Visão, a propósito das comemorações. Aqui ficam alguns excertos da carta que foram lidos e analisados ao longo da sessão:

  


Carta ao Aluno que não Lê Os Maias

  "O calhamaço que te obrigam a ler na escola está velho. Foi escrito há 130 anos (imagina a tua vida multiplicadapor oito), é pois natural que te pareça demasiado pesado, um cadáver de papel do qual queres livrar-te o mais rapidamente possível. Mas atenção, tem calma. Pega-lhe com cuidado, sopesa-o na palma da mão como o telemóvel do qual dependes. Vês como respira? Como precisa de ti para sobreviver? (...) 

  Se te mantiveres na tua, até podes acabar o ano letivo com uma nota decente no exame e a consciência tranquila. Mas confessa lá, sê honesto. Apesar dos muitos preconceitos, aposto que algures entre os teus afazeres já surgiu uma supeita inquietanto. (...)

  Quando dás por ti, a obrigação de ler nada significa; depois de superares a primeira descrição mais longa, os diálogos mais enfadonhos, estás em pleno ritual de passagem, cativado por essa coisa maravilhosa e produtiva chamada curiosidade; quando chegas a meio, percebes que o medo do desconhecido, que até então te constrangia, caracteriza quem evita crescer; e ao acabares, até sorris num momento autodepreciativo próprio de quem é inteligente. (...)

  Tal como te avisaram, percebes que ainda hoje muitas das pessoas que ali encontras se repetem, não porque a nossa sociedade seja igual à do século XIX, mas porque o ser humano continua o mesmo, e o Eça conseguiu captá-lo na sua universalidade. (...) 

  Enquanto tens esse prazer, usas o melhor dos músculos. O mais potente. Exercitas o cérebro contra a superficialidade, conheces os fios que cosem o dia a dia, enriqueces o raciocínio - vais ganhando experiência. Na verdade, precisas de muitas vidas para viver a tua vida, e podes encontrá-las nos livros

  A tua obrigação não é para com a escola, os professores, a nota. A tua única obrigação é para contigo, para com o teu próprio crescimento, e obras como Os Maias e escritores como o Eça de Queirós dão-te armas para o futuro. 

  Se suspeitares disto e mesmo assim decidires não ler, preferindo resumos que esquecerás logo depois do exame, paciência. Tu é que ficas a perder." 
Exposição "Tudo o que Tenho no Saco"
 comemoração dos 130 anos da 1ª edição de Os Maias
 
    

  

  Após a leitura da carta, seguiu-se uma reflexão conjunta sobre o seu contéudo. Cada aluno teve oportunidade de partilhar a sua experiência na relação com a obra Os Maias - receio, dificuldade na leitura, desafio, curiosidade, encanto, entusiasmo. A partilha de experiências tão diversas foi enriquecedora e motivadora não só para os alunos que já estão a ler a obra, mas principalmente para aqueles que ainda não a começaram a ler.

  Os alunos viram ainda o trailer do filme Os Maias, do realizador João Botelho. O filme completo será visionado numa das sessões do projeto.  



  Na segunda parte da sessão, os alunos iniciaram a elaboração do trabalho na aplicação Padlet. Este trabalho será feito ao longo das várias sessões e envolve as seguintes tarefas:

* Diário da sessão (um post para cada sessão com o registo das tarefas e uma apreciação crítica).
* Escolha de uma personagem de Os Maias e sua caracterização.
* Transcrição de uma passagem da obra sobre a personagem.
* Relação da personagem com a biblioterapia. 


  A segunda sessão Animação de Leitura - decorreu nos dias 13 (11ºC) e 15 de março (11ºB), no âmbito da Semana da Leitura, na disciplina de Português.

 

  Os alunos tiveram a oportunidade de explorar a obra através da leitura de passagens significativas para a escolha da personagem e/ou ambiente que irão trabalhar. Simultaneamente, puderam partilhar as suas experiências de leitura com os colegas. Em seguida, deram continuidade ao trabalho em Padlet


  O projeto BE Biblioterapia com Os Maias continuará a ser dinamizado ao longo de diversas sessões, por forma a que os alunos alcancem os seguintes objetivos:

* Ler, de forma orientada, obras e/ou execertos de diferentes géneros e dificuldades.
* Relatar experiências de leitura, expressando de forma fundamentada as preferências que marcam a sua identidade como leitor.
* Definir uma metodologia de trabalho, selecionando ferramentas e fontes de informação a utilizar. 
* Desenvolver a sensibilidade estética, o gosto e o interesse pelas artes, ciências e humanidades.

  Em breve partilharemos convosco os textos, as fotografias e os trabalhos resultantes das sessões a realizar. 


BOAS LEITURAS!