No dia em que se assinala a
libertação dos prisioneiros do Campo de Auschwitz quem melhor que Primo
Levi para nos “relatar” o que foi (sobre)viver em Auschwitz.
Primo Levi |
Primo Levi
nasceu a 31 de julho de 1919, no seio de uma família de judeus liberais, em
Turim (Itália).
É enquanto estudante
universitário que começa a sentir os efeitos reais da sua ascendência judaica:
em 1941, após a publicação de leis que proíbem aos judeus a frequência de
escolas públicas, Levi vê-se impossibilitado de encontrar um orientador para a
sua tese de final de curso. Por ser reconhecidamente um bom aluno, irá terminar
a sua licenciatura em química, mas, no seu diploma constará a especificação “raça
judia”, facto que lhe limitará as possibilidades de emprego.
Em 1943 participa nos movimentos
de resistência e acaba por ser preso pela milícia fascista. Quando se apercebem
que é judeu enviam-no para o Campo Fossoli.
A 11 de fevereiro de 1944, os
prisioneiros de Fossoli são transportados para Auschwitz. Primo Levi permanece
em Auschwitz durante longos onze meses…será libertado pelo Exército Vermelho. Dos
650 judeus italianos enviados para Auschwitz, com Levi, apenas sobrevivem 20…
É o próprio que nos explica que
sobreviveu por sorte, sorte em saber
um pouco de alemão e assim perceber as ordens que lhe eram dadas, sorte por se
ter formado em química e por isso ser destacado para como assistente de
laboratório em Buna (onde se efetuavam as pesquisas para a produção da borracha
sintética, sorte por ter contraído escarlatina e não ser obrigado a ingressar
nas fileiras da “Marcha da morte”, sorte por ser muitíssimo discreto…
Ao regressar a Itália começou a
escrever sobre o que experienciou no campo de concentração – escreve na
qualidade de sobrevivente que sente, como imperativo de vida, a necessidade de
fazer justiça às vítimas, relatando o processo de degradação e desumanização
por que foram obrigados a passar. Diz-nos que não odeia os alemães mas que
perdoar é algo que não consegue.
Veio a falecer a 11 de abril de
1987.
Se isto é um Homem
Coleção Mil Folhas
Público
Maio de 2002
PNL – livro recomendado
para o Ensino Secundário
É o seu relato sobre Auschwitz, escrito em 1947 mas
cuja publicação tardou em ser concretizada (no imediato pós-guerra o livro é
considerado muito triste e parece haver pouco interesse em saber a verdade
sobre a Shoah e os campos de morte). Na verdade, é uma obra de leitura obrigatória para toda a Humanidade!
Capítulo após capítulo somos conduzidos a um
universo de desumanização que é difícil de imaginar:
“Pela primeira
vez percebemos que a nossa língua carece de palavras para exprimir esta ofensa,
a destruição de um homem. Num ápice, com uma intuição quase profética, a
realidade revelou-se-nos: chegámos ao fundo. Mais para baixo do que isto não se
pode ir: não há nem se pode imaginar condição humana mais miserável. Já nada
nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não
nos escutarão, e se nos escutassem não nos perceberiam.” (pág. 24)
“Tiraram-nos
também o nome (…)O meu nome é 174517” (pág. 25)
O poema inicial, resumindo de
forma emotiva o conteúdo do livro, e é a sua adaptação de uma oração aprendida
aos 12 anos, a “Shemá Israel” agora reescrita à luz da sua vivência em
Auschwitz:
“Vós que viveis
tranquilos
Nas vossas casas
aquecidas,
Vós que
encontrais regressando à noite
Comida quente e
rostos amigos:
Considerai se
isto é um homem
Quem trabalha na
lama
Quem não conhece
paz
Quem luta por
meio pão
Quem morre por
um sim ou por um não.
Considerai se
isto é uma mulher,
Sem cabelos e
sem nome
Sem mais força
para recordar
Vazios os olhos
e frio o regaço
Como uma rã no
inverno.
Meditai que isto
aconteceu:
Recomendo-vos
estas palavras.
Esculpi-as no
vosso coração
Estando em casa
andando pela rua,
Ao deitar-vos e
ao levantar-vos;
Repeti-as aos
vossos filhos.
Ou então que
desmorone a vossa cas,
Que a doença vos
entreve,
Que os vossos
filhos vos virem a cara.
Para ler e refletir…