O Dia Nacional da Cultura Científica, instituído em 1996, é assinalado a 24 de novembro em homenagem a Rómulo de Carvalho, procurando realçar a importância do conhecimento científico para o crescimento e desenvolvimento de Portugal e dos portugueses.
Rómulo de Carvalho, investigador, professor, poeta, autor de manuais escolares e livros de investigação científica e de poesia, deixou uma marca relevante para afirmar a ciência como o meio para modificar, ampliar e substituir o conhecimento.
Texto por Luís Carvalho Retirado de: https://www.esenf.pt/pt/noticias/dia-nacional-da-cultura-cientifica/
Pedra Filosofal" é uma obra literária escrita por Rómulo de Carvalho, também conhecido pelo seu pseudónimo, António Gedeão. Publicada em 1956, a obra é uma homenagem à ciência e à cultura científica, apresentando uma abordagem poética e filosófica sobre os mistérios e maravilhas do conhecimento humano.
Pedra filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultrassom, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão