sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Sobre o Holocausto - Primo Levi



No dia em que se assinala a libertação dos prisioneiros do Campo de Auschwitz quem melhor que Primo Levi para nos “relatar” o que foi (sobre)viver em Auschwitz.



Primo Levi
Primo Levi nasceu a 31 de julho de 1919, no seio de uma família de judeus liberais, em Turim (Itália).

É enquanto estudante universitário que começa a sentir os efeitos reais da sua ascendência judaica: em 1941, após a publicação de leis que proíbem aos judeus a frequência de escolas públicas, Levi vê-se impossibilitado de encontrar um orientador para a sua tese de final de curso. Por ser reconhecidamente um bom aluno, irá terminar a sua licenciatura em química, mas, no seu diploma constará a especificação “raça judia”, facto que lhe limitará as possibilidades de emprego.

Em 1943 participa nos movimentos de resistência e acaba por ser preso pela milícia fascista. Quando se apercebem que é judeu enviam-no para o Campo Fossoli.

A 11 de fevereiro de 1944, os prisioneiros de Fossoli são transportados para Auschwitz. Primo Levi permanece em Auschwitz durante longos onze meses…será libertado pelo Exército Vermelho. Dos 650 judeus italianos enviados para Auschwitz, com Levi, apenas sobrevivem 20

É o próprio que nos explica que sobreviveu por sorte, sorte em saber um pouco de alemão e assim perceber as ordens que lhe eram dadas, sorte por se ter formado em química e por isso ser destacado para como assistente de laboratório em Buna (onde se efetuavam as pesquisas para a produção da borracha sintética, sorte por ter contraído escarlatina e não ser obrigado a ingressar nas fileiras da “Marcha da morte”, sorte por ser muitíssimo discreto…

Ao regressar a Itália começou a escrever sobre o que experienciou no campo de concentração – escreve na qualidade de sobrevivente que sente, como imperativo de vida, a necessidade de fazer justiça às vítimas, relatando o processo de degradação e desumanização por que foram obrigados a passar. Diz-nos que não odeia os alemães mas que perdoar é algo que não consegue.

Veio a falecer a 11 de abril de 1987.




Se isto é um Homem
Coleção Mil Folhas
Público
Maio de 2002

PNL – livro recomendado para o Ensino Secundário

É o seu relato sobre Auschwitz, escrito em 1947 mas cuja publicação tardou em ser concretizada (no imediato pós-guerra o livro é considerado muito triste e parece haver pouco interesse em saber a verdade sobre a Shoah e os campos de morte). Na verdade, é uma obra de leitura obrigatória para toda a Humanidade!
Capítulo após capítulo somos conduzidos a um universo de desumanização que é difícil de imaginar:
“Pela primeira vez percebemos que a nossa língua carece de palavras para exprimir esta ofensa, a destruição de um homem. Num ápice, com uma intuição quase profética, a realidade revelou-se-nos: chegámos ao fundo. Mais para baixo do que isto não se pode ir: não há nem se pode imaginar condição humana mais miserável. Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos escutarão, e se nos escutassem não nos perceberiam.” (pág. 24)
“Tiraram-nos também o nome (…)O meu nome é 174517” (pág. 25)

O poema inicial, resumindo de forma emotiva o conteúdo do livro, e é a sua adaptação de uma oração aprendida aos 12 anos, a “Shemá Israel” agora reescrita à luz da sua vivência em Auschwitz:
“Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa cas,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.

Para ler e refletir…