sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Mafalda, a contestatária que não gosta de sopa

    No dia 29 de setembro de 1964 o argentino Quino publicou a primeira história da Mafalda em banda desenhada.

    As Bibliotecas Escolares assinalam a comemoração dos 50 anos da Mafalda, a menina contestatária que não gosta de sopa!

«A Mafalda não gosta de sopa mas ouve os Beatles, brinca com os amigos aos cowboys e preocupa-se com a guerra do Vietname. Criada pelo argentino Quino, a personagem de banda desenhada é uma menina de 5 anos (acompanhamos as suas aventuras ao entrar para a escola primária), da classe média, pequena mas muito inteligente. A primeira história da Mafaldinha foi publicada a 29 de setembro de 1964 no semanário Primera Plana, faz agora 50 anos.
    “Nunca imaginei que ela estaria tão viva tantos anos depois”, afirmou o cartoonista Quino (Joaquín Salvador Lavado, nascido em 1932), na semana passada, na apresentação da exposição O Mundo Segundo Mafalda, em Buenos Aires, referindo-se ao facto de apenas ter publicado histórias de Mafalda entre 1964 e 1973. “Os problemas que enfrentamos hoje são os mesmos ou piores do que aqueles sobre os quais desenhei naqueles anos”. Ela acompanha a corrida ao espaço, não sabe porque é que os chineses são perigosos, preocupa-se com a poluição e anda a tentar perceber o que é a democracia, e sobre tudo isto vai dizendo aquelas verdades que os crescidos já esqueceram ou não querem ver. Muito Nervocalm tomou o pai para conseguir responder às suas difíceis perguntas. Mafaldinha, “a contestatária”, como foi chamada pelo seu autor, “é uma heroína zangada, que recusa ver o mundo tal como é”, escreveu uma vez Umberto Eco. Já que não consegue tornar o mundo um lugar melhor, Mafaldinha aplica um pouco do creme facial da mãe no seu globo, para o embelezar.


Mas depois é também uma criança como todas as outras. Vive com a mãe e o pai, e mais tarde o seu irmão Gui e uma tartaruga, e tem um grupo de amigos: Susanita, que sonha com o dia em que se vai casar, ter filhos e muitos vestidos; Miguelito, o menino de coro; Filipe, que tem como herói o Cavaleiro Solitário; Manelito, o filho do dono da mercearia e já a preparar-se para ser um bom comerciante; e, a última a chegar, Liberdade, uma menina pequena e com fortes opiniões políticas. Mafalda vai de férias, brinca com os amigos no jardim, vai à escola e tem de fazer os trabalhos de casa – tal e qual como todas as crianças de hoje. E a batalha travada pelo pai, que lá aceita comprar uma televisão mas procura proteger os miúdos dos malefícios do pequeno ecrã, é também a luta dos pais do presente contra o excesso de tecnologias na vida das crianças.
    Em 1965 as histórias da Mafaldinha mudaram-se para o El Mundo de Buenos Aires e em 1968 para o Siete Días Illustrados, onde permaneceram até 1973, quando Quino decidiu pôr fim à sua publicação. De então para cá, só voltou a desenhar Mafalda em ocasiões especiais, como para promover campanhas sobre direitos humanos. Longe das páginas dos jornais, Mafalda continuou bastante viva nos livros, editados em 50 países num total de 20 línguas. (...) Mesmo aos 50 anos, Mafalda continua a ser uma rebelde!» 
 
M. Caetano, Diário de Notícias, 28.09.2014.